Até o início dos anos 2000, a Honda não tinha de fato um
concorrente de peso para o agitado segmento dos compactos no mercado
japonês. Apesar do Civic ter sido um sucesso de vendas nos anos 80 e 90,
seus modelos menores City (1981-1993 – o primeiro automóvel turbo da
marca e com qualidades não superadas até hoje nas competições
de rali e gymkhana japonesas, devido ao baixo peso da carroceria da 2ª
geração) e Logo (1996-2001 – conhecido como o Starlet da Honda, sempre
foi um carro sem expressividade) passaram pelo mercado como meros
coadjuvantes, ofuscados pelo êxito dos rivais da Toyota e Nissan.
Considerada recente na fabricação de minivans (começou em 1994 com a Odyssey, um estrondoso sucesso
de vendas no japão), mas bem sucedida em quase todos os modelos que
lançou, a Honda aplicou todo o seu know-how no Fit. Lançado em 2001, o
novo compacto da marca promoveu uma verdadeira revolução na categoria,
antes dominada apenas pelos hatches tradicionais – apenas o Mazda Demio
tinha um formato mais aproximado das minivans. Se o Mazda foi o
precursor do segmento, o Honda foi quem popularizou o conceito.
Nenhum carro compacto japonês antes do Fit tinha conseguido
um aproveitamento de espaço interno tão bom, unindo um interior
confortável para os passageiros
e um amplo bagageiro – de fazer inveja a carros bem maiores e com um
inteligente sistema de rebatimento dos bancos, o chamado ULTR (ultra),
abreviação dos nomes dos 4 modos de arranjo dos assentos – Ultility,
Long, Tall e Refresh.
Seu desenho também caiu no gosto do japonês, que estava
cansado do tradicional formato hatch – embora no Brasil (onde é
comercializado desde 2003) alguns o acham estranho até hoje. Para o
mercado interno foram criadas também as minivans
Mobilio e Mobilio Spike – de 7 e 5 pessoas respectivamente. Substitutas
do Capa, versão minivan do Logo, tinham um desenho quadrado e bastante
controverso, mas com excelente área interna.
Além de espaçoso por dentro, outro ponto que cativou os
consumidores nipônicos é o seu baixo consumo de combustível. A
motorização 1.3 com i-DSI (duas velas por cilndro) e câmbio CVT permite
que o carro faça médias acima de 15 km/l sem muito esforço.
Posteriormente a versão 1.5 com VTEC entrou no catálogo, para quem
desejasse um plus a mais no desempenho. Os que apreciavam um bom Honda
manual mas não tinham dinheiro para comprar um Type R ou Euro R, foram agraciados com a oferta desta transmissão nos últimos anos de produção deste modelo.
Em 2007 estreou a 2ª geração, mantendo o mesmo formato mas com linhas
evoluídas e mais agradáveis. Maior em todas as medidas, ele continuou
sendo a referência no quesito espaço neste segmento. Inicialmente
vendido nas versões i-VTEC 1.3 (99 cv) e 1.5 (120 cv), o carro mais
vendido do Japão de 2002 (quando tirou o Corolla do longevo posto no
mercado japonês) a 2008 tomou um susto com a chegada do Prius de 3ª
geração, cujo modelo virou o hit do momento e se sagrou campeão de
vendas em 2009 e 2010.
Para tentar reverter o jogo e consertar o fracasso do Insight
(considerada a verdadeira arma “anti-Prius” da Honda), em outubro do ano
passado nasceu a versão híbrida. E parece o caçula tem mostrado
serviço, pois atualmente Fit e Prius se revezam no lugar mais alto do
pódio – com uma pequena vantagem para o Honda no total acumulado do ano
até junho. Mas será que o compacto tem cacife o suficiente para encarar o
pioneiro do segmento? É o que veremos nesta avaliação!
O facelift recebido no ano passado (no mercado japonês e europeu)
serviu mais para celebrar a chegada do modelo ecológico do que para
rejuvenescer o Fit, que parece não reclamar da idade ainda. Poucas
mudanças foram feitas (novos para-choques, grade e lanternas traseiras
com LEDs – que tem o esquema de luzes parecido com o do primeiro Fit. No
interior, apenas novas padronagens), somente na versão RS as mudanças
foram mais profundas, com um novo kit aerodinâmico e a introdução do
câmbio manual de 6 marchas.
O híbrido difere externamente do Fit tradicional apenas na régua da
placa traseira cromada (igual a do 15 X, a mais luxuosa), faróis, grade e
lanternas posteriores transparentes e em tom azulado – no RS estas
mesmas luzes traseiras são levemente fumês (um detalhe que não consigo
entender é o porquê delas terem a metade inferior literalmente sem uso.
Não existe sequer um local para colocar lâmpadas). No restante é o mesmo
Honda conhecido dos brasileiros desde 2008.
Internamente as alterações feitas para o modelo híbrido também foram
mínimas, provavelmente a mais sentida foi a perda do generoso espaço
abaixo do piso do porta-malas (onde também ficava o estepe), local agora
ocupado pelas baterias do sistema. Ainda bem que não houve modificações
no sistema ULTR, uma das marcas registradas do carro.
No painel, detalhes em tom champagne dão um pouco de sofisticação ao
modelo, que também ganha ar condicionado automático e um computador de
bordo semelhante ao do Insight, que monitora detalhadamente o consumo de
combustível e qual tipo de propulsão está sendo usada para movimentar o
carro. Além disso, a iluminação (ao todo muito bonita) em volta do
velocímetro muda de cor conforme o jeito que o carro está sendo dirigido
– verde para quem conduz de forma econômica e azul para quem tem o pé
mais pesado.
Bem acabado (apesar eu ouvir alguns pequenos barulhos vindos do
revestimento da coluna central), o Fit tem o mérito de ser um dos carros
mais confortáveis da categoria – amplo e com bons bancos dianteiros, a
versão ganhou um necessário descansa-braços central, que fazendo par com
o piloto automático (de série no híbrido) torna qualquer trajeto
bastante agradável para um compacto.
E este mesmo adjetivo também pode ser deferido ao seu desempenho e
comportamento dinâmico, a propulsão híbrida deixou o Fit um carro bem
mais gostoso de dirigir. A ajuda do motor élétrico é constante e deixa o
carro bem “torcudo” e com a sensação de estar dirigindo um carro de
cilindrada superior – Faz de 0 a 100 km/h em 11.3s e atinge 174.6 km/h
(o 1.3 normal com CVT cumpre em 12.3s, mas a máxima é um pouco maior,
176.5 km/h).
Em comparação ao Insight (usa o mesmo motor), que literalmente grita
em altas rotações, o Fit tem um nível de ruído mais ameno nesta
situação, tornando-o mais prazeroso ao volante. Diferente do Prius, que
usa um sistema complexo e bem mais caro – que permite que o carro se
inicie a mover e também a rodar usando apenas o motor elétrico em
trajetos até 2 km de distância (EV mode), o sistema da Honda prima pela
simplicidade e eficiência, onde na maior parte do tempo o propulsor
elétrico (14 cv) apenas auxilia o comum á gasolina (também 1.3 com
i-VTEC mas com 88 cv).
Contudo, em velocidades constantes entre 30 a 70 km/h e com pouca
carga no acelerador, o motor ecológico puxa o carro sozinho, mas em
curtos períodos. O sistema Start-stop também é uma mão na roda para
torná-lo bastante frugal – em congestionamentos ele faz toda a
diferença. O resultado é um consumo ainda mais contido que o do
tradicional Fit. De acordo com a fábrica, o híbrido tem um consumo médio
de 26 km/l contra os 20,6 km/l da versão básica à gasolina. Para efeito
de comparação, o Prius faz 32,6 km/l, segundo a Toyota (eu consegui
fazer 20,4 km/l na avaliação feita em abril deste ano).
Durante o curto percurso que rodei com o carro (149 km – 2/3 deles na
estrada com piloto automático a 90~100 km/h) o indicador de consumo
manteve-se na casa dos 20 km/l – com o ar condicionado ligado e o botão
ECO acionado (muda a programação do ECU do motor e câmbio, deixando o
carro pouca coisa mais lento nas respostas e reduz levemente a potência
do condicionador de ar para deixá-lo mais econômico – disponível nos
modelos automáticos exceto RS). Em um certo momento da avaliação o Fit
chegou a ter um pico de 23,8 km/l.
Suspensão, direção e freios são idênticos a versão 1.3 comum e
garantem uma muito boa relação conforto/dirigibilidade. Não tende a
esportividade como o Insight mas também não é um carro anestesiado,
apenas inclina levemente a carroceria nas curvas, devido à altura, mas
sem sustos. O peso da bateria no local do estepe ajuda na distribuição
do peso.
Para quem deseja um Fit mais “na mão” existe a versão RS, com
suspensão esportiva, rodas aro 16 com pneus 185/55, reforços no chassi
para reduzir a torção, uma direção mais rápida e escapamento com um
ronco mais grosso . Pena que o motor 1.5 de 120 cv não tenha o mesmo
desempenho (não é lerdo, mas também não é nenhum foguete…) que o visual
externo e as alterações mecânicas sugerem mostrar.
Muito diferente do Brasil, onde o modelo básico é caro (e pelado para
a sua faixa de preço) e o completo nem se fala, o Fit japonês é
bastante acessível e por causa disso é o primeiro carro de muitas
pessoas. Desde o tipo mais simples conta com o padrão japonês em
equipamentos de segurança (ABS/brake assist/EBD/duplo airbag/fixação
ISOFIX para cadeirinhas infantis) e os triviais itens de conforto e
conveniência (ar condicionado/direção assistida/trio elétrico).
Seus preços começam em ¥ 1.230.000 ou R$ 25.475,00 (13 G) e vão até ¥
2.100.000 ou R$ 43.490,00 (Hybrid navi premium selection). A versão
avaliada é a Hybrid básica, que custa ¥ 1.590.000 (R$ 32.930,00). É
oferecido também com tração integral nos modelos 13 G/L e 15 X – neste
caso a transmissão é automática de 5 marchas e a suspensão traseira é do
tipo De Dion, um sistema que poucos carros utilizam atualmente.
Dependendo da versão pode receber (alguns itens são opcionais) faróis
com luz xenon, airbags laterais, teto em vidro (Skyroof), controle de
estabilidade, paddle shifts (modo manual com 7 marchas), chave
presencial, “Smart parking system” (o carro assume a direção ao
estacionar, deixando para o motorista apenas o controle do freio),
som/GPS com câmera para marcha a ré, bancos dianteiros com aquecimento,
porta-luvas refrigerado, rodas de liga leve e vidros traseiros
escurecidos.
Com uma gama bastante variada e para todos os gostos e bolsos –
incluindo as minivans Freed (7 e 5 pessoas) e Freed Spike (5 pessoas,
com um design voltado para o público jovem), a linha mais popular da
Honda ganhou em junho último a station wagon Fit Shuttle, de desenho
controverso na coluna “C” mas que agradou aos consumidores locais.
Lançada nas variações híbrida/comum e praticamente ao mesmo tempo que
o Prius Alpha – a versão familiar do Prius, a rival da Toyota foi
rápida desta vez e não quis repetir os erros do passado (quando deveria
ter lançado o Fit híbrido no lugar do Insight). E a julgar pela
quantidade de Fit Shuttle que vejo nas ruas (bem mais do que o rival),
parece que o novo modelo está fazendo muito sucesso, seguindo o mesmo
caminho que o progenitor da família.
O Fit híbrido comprova que tem peito sim para encarar o pioneiro dos
híbridos. Apesar de serem carros de categorias distintas, a Honda aposta
no custo-benefício para tentar levar a melhor sobre o concorrente,
afinal são quase 10.000 reais de diferença no preço da versão básica de
ambos. Porém, a superioridade no conforto ao rodar, a alta tecnologia
embarcada e o desenho exclusivo do Toyota podem fazer minar esse valor. O
Fit seria a escolha mais racional por ser quase ou tão eficaz no
consumo quanto o Prius, sendo bem mais barato.
Talvez não exista um nome melhor (apesar de ser chamado de Jazz na
Europa) para batizar um automóvel que mudou um paradigma de 36 anos no
Japão. Um veículo compacto mas com um espaço interno que faz muito
grandalhão passar vergonha, que tem um bom desempenho sem ser beberrão e
que consiga oferecer tudo isso numa embalagem atraente, bem acabada e
com um valor honesto – menos no Brasil, infelizmente.
E com a nova versão híbrida (que representa mais da metade das vendas
do modelo), o adjetivo fit em inglês tornou-se perfeito para nomear um
carro que no atual contexto japonês é tudo que o mercado interno quer: a
velha regra dos três “B” – Bom, Bonito e Barato. Mas agora por
obrigação também deve ser ecológico e principalmente, bastante
econômico.
Como o seu próprio nome diz, o Honda Fit cai como uma luva para a complicada situação da terra do Sol Nascente nos dias de hoje…
Ficha técnica – Honda Fit Hybrid
Quilometragem do carro avaliado: 6.103 km
Dimensões e capacidades:
carroceria: Hatchback, 5 portas, 5 passageiros
comprimento/largura/altura: 3,90/1,69/1,52m (interno: 1,82/1,41/1,29m)
entre-eixos: 2,50m
peso: 1.130 kg
tanque de combustível: 40 litros, gasolina comum
comprimento/largura/altura: 3,90/1,69/1,52m (interno: 1,82/1,41/1,29m)
entre-eixos: 2,50m
peso: 1.130 kg
tanque de combustível: 40 litros, gasolina comum
velocidade máxima*: 174.6 km/h
aceleração de 0 a 100 km/h*: 11.3 seg. (*dados da revista Car Grarphic)
consumo médio: 30 km/l (norma 10-15 mode), 26 km/l (norma JC08)
aceleração de 0 a 100 km/h*: 11.3 seg. (*dados da revista Car Grarphic)
consumo médio: 30 km/l (norma 10-15 mode), 26 km/l (norma JC08)
Motor:
tipo LDA, 1.339cm³, dianteiro, transversal, 4 cilindros, SOHC 8V com i-VTEC, auxiliado por motor elétrico tipo MF6
diâmetro e curso: 73,0 x 80,0 mm
taxa de compressão: 10.8
potência: 88 cv a 5.800 rpm (potência específica: 65,7 cv/litro)/motor elétrico: 14cv a 1500 rpm
torque: 12,3 kgfm a 4.500 rpm/motor elétrico: 8,0 kgfm a 1.000 rpm
taxa de compressão: 10.8
potência: 88 cv a 5.800 rpm (potência específica: 65,7 cv/litro)/motor elétrico: 14cv a 1500 rpm
torque: 12,3 kgfm a 4.500 rpm/motor elétrico: 8,0 kgfm a 1.000 rpm
Transmissão:
automática tipo CVT, tração dianteira.
relações de marcha: frente: 2.526 ~ 0.421/ré: 4.510 ~ 1.692/diferencial: 5.274
rotação do motor a 100 km/h: 2.000 rpm
relações de marcha: frente: 2.526 ~ 0.421/ré: 4.510 ~ 1.692/diferencial: 5.274
rotação do motor a 100 km/h: 2.000 rpm
Direção:
tipo pinhão e cremalheira com assistência elétrica, 4,9m de diâmetro mínimo de curva
Suspensões:
Mc Pherson (D), eixo de torção (T)
Freios:
disco ventilado (D), tambor (T) com ABS, EBD e Brake assist
Rodas e pneus:
aço estampado 15×6.5J com calotas, 175/65R15 84S
Tabela de preços:
13 G: ¥ 1.230.000 (R$ 25.475,00) – 5MT/CVT
13 G Smart selection: ¥ 1.350.000 (R$ 27.960,00) – 5MT/CVT
13 L: ¥ 1.490.000 (R$ 30.850,00) – CVT
15 X: ¥ 1.498.000 (R$ 31.025,00) – CVT
Hybrid: ¥ 1.590.000 (R$ 32.930,00) – CVT
Hybrid Smart selection: ¥ 1.720.000 (R$ 35.620,00) – CVT
Hybrid Navi premium selection: ¥ 2.100.000 (R$ 43.490,00) – CVT
RS: ¥ 1.698.000 (R$ 35.200,00) – 6MT/CVT
4WD também disponível (apenas 13 G/L e 15 X): + ¥ 175.600 (R$ 3.640,00) – 5AT
13 G Smart selection: ¥ 1.350.000 (R$ 27.960,00) – 5MT/CVT
13 L: ¥ 1.490.000 (R$ 30.850,00) – CVT
15 X: ¥ 1.498.000 (R$ 31.025,00) – CVT
Hybrid: ¥ 1.590.000 (R$ 32.930,00) – CVT
Hybrid Smart selection: ¥ 1.720.000 (R$ 35.620,00) – CVT
Hybrid Navi premium selection: ¥ 2.100.000 (R$ 43.490,00) – CVT
RS: ¥ 1.698.000 (R$ 35.200,00) – 6MT/CVT
4WD também disponível (apenas 13 G/L e 15 X): + ¥ 175.600 (R$ 3.640,00) – 5AT
Notas no crash test JNCAP – proteção para motorista/passageiro: 6/6 estrelas (de 6 possíveis)


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